"Para que tudo permaneça igual, é necessário que tudo mude"?




 “Para que tudo permaneça igual, é necessário que tudo mude”?


NUNO VALENTIM: IMAGENS DE OBRA, IMAGENS EM OBRA.

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"Para que tudo permaneça igual, é necessário que tudo mude" é a frase do filme "O Leopardo" de Visconti (uma adaptação do livro de Giuseppe  Tomasi di Lampedusa), aqui colocado em forma de interrogação. Se, no entanto, o contexto desta frase é essencialmente político, a sua colocação, aqui, procura pro-vocar, chamar, algumas questões em torno deste processo a que chamamos "reabilitação". Sobretudo, desvelar, um pouco mais, um processo de intervenção que caminha numa linha ténue entre destruição, construção e recuperação ou, melhor, que se faz na e sobre essa linha de escolhas e decisões. E onde, muitas vezes, mais do que preservar alguma coisa é necessário destruir, para que esta possa, de facto, permanecer. Mas, simultaneamente, a reabilitação só fará sentido enquanto apropriação-aproximação-inclusão de um modo de construir outro (antigo?) de fazer espaço e arquitectura. 

A reabilitação não deve ser a máscara (literal) da tragédia (urbana) das cidades actuais, nem o lifting cosmético da máquina do turismo. Mas também não será o lugar de um espectáculo estético e nostálgico da memória ou de um passado ao qual já não podemos aceder. Será, antes, talvez, um lugar de encontro infiel com aquilo que foi esquecido. Mas que, apesar de esquecido e por recordar, permanece informulado no fundo da nossa memória. Não se trata de chegar a ver o passado, mas que o passado possa chegar até nós, não apenas na forma do monumento ou da contemplação estética, mas num modo de encontro, in-contro (do latim frente-a-frente) entre o que fomos e perdemos e o que ainda podemos ser e ganhar. Um modo de encontro que poderíamos chamar essencialmente um habitus ou um uso ou, então, um certo modo de habitar esse esquecimento que somos nós.

Pedro Levi Bismarck (Revista Punkto)

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Casa Diu
O projecto de reabilitação da casa da Rua de Diu conta-se em poucas palavras. O programa da habitação manteve-se com pequenas alterações e o estado de conservação permitiu recuperar a maioria dos elementos construtivos preexistentes. Procurámos pontualmente abrir novas perspectivas sobre os espaços e sobre os tempos (lembrando Távora...): novas entradas de luz, evidenciação das texturas dos materiais existentes...Foram conservados e recuperados os principais elementos construtivos existentes, nomeadamente estrutura primária composta por alvenarias portantes de granito e estrutura secundária (pavimentos, cobertura e escadas) em madeira; divisórias interiores em tabique com acabamento a argamassa bastarda e gesso; vãos interiores e exteriores em madeira pintada e tectos estucados de gesso sobre fasquiado de madeira. As intervenções não são evidentes – o que, neste caso, nos agrada muito.

Localização
Rua de Diu, Porto
Data do Projecto
2005
Data de Construção
2006 – 2009
Fotografia
João Ferrand
Autores
Nuno Valentim, Joana Sarmento






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Atelier des Créateurs
O projecto propôs a reabilitação do edifício existente, antiga sede da YMCA, e a sua reconversão em unidade de confecção artesanal e semi-industrial criando cerca de 50 postos de trabalho. Estamos perante um importante “regresso à Baixa” de uma função que tem feito o percurso inverso, instalando-se na periferia da cidade. Convirá notar os sinais de revitalização desta rua e sua envolvente próxima – cafés, bares, lojas de criadores de moda – trazendo o projecto um contributo importante para este processo. Apesar da mudança funcional do edifício mantêm-se todos os elementos caracterizadores do sistema construtivo existente. O valor patrimonial diagnosticado impôs o critério de distribuição do programa. O piso térreo ficou destinado às áreas de apoio aos funcionários e de produção com equipamento de grandes dimensões, enquanto a escadaria nobre e o tratamento decorativo do 1º andar sugeriram a localização das áreas administrativas. No salão que ocupa o 1º e 2ºandares ficou localizada a área central de produção. A ocupação deste espaço em openspace permite a leitura total da sua volumetria e do tratamento decorativo. O novo balcão proposto em contraponto ao existente testemunha os diversos tempos de intervenção.

Localização
Rua José Falcão, Porto
Data de Projecto
2007
Data de Construção
2008 – 2009
Fotografias
João Ferrand

Autores
Nuno Valentim, Frederico Eça, Paola Monzio c/ Maria Ana S Coutinho





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Casa Andresen
A celebração do centenário da Universidade do Porto e a possibilidade de receber a exposição internacional "A Evolução de Darwin" sobre a sua vida e obra proporcionaram a reabilitação deste edifício de 1875, estendendo a intervenção às estufas dos anos 60 (Karl Franz Koepp). Face aos valores identificados, as intervenções foram direccionadas aos pontos críticos programáticos e construtivos. As operações necessárias foram sobretudo de demolição pontual, reorganização de espaços e reparação/recuperação dos elementos construtivos. A necessidade de criar um percurso no interior da Casa com uma lógica adaptada à acessibilidade de visitantes das exposições tornou-se o fio condutor da intervenção arquitectónica. Nesta perspectiva, introduziram-se uma nova escada e um elevador. As funções de apoio como instalações sanitárias, cafetaria e áreas técnicas situaram-se no piso inferior. Esta relocalização permitiu criar novas relações com o jardim. Para além da introdução de novas infra-estruturas, os restantes trabalhos foram sobretudo de recuperação dos materiais de revestimento e pinturas. Um rigoroso estudo diagnóstico teve grande importância para a correcta definição da estratégia de intervenção. Não se trata de reabilitação low-cost (como muitos pretendem que a reabilitação nos dias de hoje se designe) mas sim de um projecto que cumpre um tecto orçamental e um prazo de execução, encontrando os valores a preservar e as prioridades na intervenção.

Localização
Jardim Botânico do Porto
Rua do Campo Alegre, 1191, Porto
Data do projecto
2010
Data de Construção
2010-2011
Fotografia
João Ferrand Fotografia, Lda
Arquitectura
Nuno Valentim, Frederico Eça
Colaboradores
Maria Ana S. Coutinho, Pedro Costa, Rui Valentim, Nuno Borges