“Para que tudo permaneça igual, é necessário
que tudo mude”?
NUNO VALENTIM: IMAGENS DE OBRA, IMAGENS EM OBRA.
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"Para que tudo permaneça igual, é necessário que tudo mude" é a frase do filme "O Leopardo" de Visconti (uma adaptação do livro de Giuseppe Tomasi di Lampedusa), aqui colocado em forma de interrogação. Se, no entanto, o contexto desta frase é essencialmente político, a sua colocação, aqui, procura pro-vocar, chamar, algumas questões em torno deste processo a que chamamos "reabilitação". Sobretudo, desvelar, um pouco mais, um processo de intervenção que caminha numa linha ténue entre destruição, construção e recuperação ou, melhor, que se faz na e sobre essa linha de escolhas e decisões. E onde, muitas vezes, mais do que preservar alguma coisa é necessário destruir, para que esta possa, de facto, permanecer. Mas, simultaneamente, a reabilitação só fará sentido enquanto apropriação-aproximação-inclusão de um modo de construir outro (antigo?) de fazer espaço e arquitectura.
A reabilitação não deve ser a máscara (literal) da tragédia (urbana) das cidades actuais, nem o lifting cosmético da máquina do turismo. Mas também não será o lugar de um espectáculo estético e nostálgico da memória ou de um passado ao qual já não podemos aceder. Será, antes, talvez, um lugar de encontro infiel com aquilo que foi esquecido. Mas que, apesar de esquecido e por recordar, permanece informulado no fundo da nossa memória. Não se trata de chegar a ver o passado, mas que o passado possa chegar até nós, não apenas na forma do monumento ou da contemplação estética, mas num modo de encontro, in-contro (do latim frente-a-frente) entre o que fomos e perdemos e o que ainda podemos ser e ganhar. Um modo de encontro que poderíamos chamar essencialmente um habitus ou um uso ou, então, um certo modo de habitar esse esquecimento que somos nós.
"Para que tudo permaneça igual, é necessário que tudo mude" é a frase do filme "O Leopardo" de Visconti (uma adaptação do livro de Giuseppe Tomasi di Lampedusa), aqui colocado em forma de interrogação. Se, no entanto, o contexto desta frase é essencialmente político, a sua colocação, aqui, procura pro-vocar, chamar, algumas questões em torno deste processo a que chamamos "reabilitação". Sobretudo, desvelar, um pouco mais, um processo de intervenção que caminha numa linha ténue entre destruição, construção e recuperação ou, melhor, que se faz na e sobre essa linha de escolhas e decisões. E onde, muitas vezes, mais do que preservar alguma coisa é necessário destruir, para que esta possa, de facto, permanecer. Mas, simultaneamente, a reabilitação só fará sentido enquanto apropriação-aproximação-inclusão de um modo de construir outro (antigo?) de fazer espaço e arquitectura.
A reabilitação não deve ser a máscara (literal) da tragédia (urbana) das cidades actuais, nem o lifting cosmético da máquina do turismo. Mas também não será o lugar de um espectáculo estético e nostálgico da memória ou de um passado ao qual já não podemos aceder. Será, antes, talvez, um lugar de encontro infiel com aquilo que foi esquecido. Mas que, apesar de esquecido e por recordar, permanece informulado no fundo da nossa memória. Não se trata de chegar a ver o passado, mas que o passado possa chegar até nós, não apenas na forma do monumento ou da contemplação estética, mas num modo de encontro, in-contro (do latim frente-a-frente) entre o que fomos e perdemos e o que ainda podemos ser e ganhar. Um modo de encontro que poderíamos chamar essencialmente um habitus ou um uso ou, então, um certo modo de habitar esse esquecimento que somos nós.
Pedro Levi Bismarck (Revista Punkto)
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Casa Diu
O projecto de reabilitação da casa da
Rua de Diu conta-se em poucas palavras. O programa da habitação manteve-se com
pequenas alterações e o estado de conservação permitiu recuperar a maioria dos
elementos construtivos preexistentes. Procurámos pontualmente abrir novas
perspectivas sobre os espaços e sobre os tempos (lembrando Távora...): novas
entradas de luz, evidenciação das texturas dos materiais existentes...Foram
conservados e recuperados os principais elementos construtivos existentes,
nomeadamente estrutura primária composta por alvenarias portantes de granito e
estrutura secundária (pavimentos, cobertura e escadas) em madeira; divisórias
interiores em tabique com acabamento a argamassa bastarda e gesso; vãos
interiores e exteriores em madeira pintada e tectos estucados de gesso sobre
fasquiado de madeira. As intervenções não são evidentes – o que, neste caso,
nos agrada muito.
Localização
Rua de Diu, Porto
Data do Projecto
2005
Data de Construção
2006 – 2009
Fotografia
João Ferrand
Autores
Nuno Valentim, Joana
Sarmento
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Atelier des Créateurs
O projecto propôs a reabilitação do edifício existente,
antiga sede da YMCA, e a sua reconversão em unidade de confecção artesanal e
semi-industrial criando cerca de 50 postos de trabalho. Estamos perante um
importante “regresso à Baixa” de uma função que tem feito o percurso inverso,
instalando-se na periferia da cidade. Convirá notar os sinais de revitalização
desta rua e sua envolvente próxima – cafés, bares, lojas de criadores de moda –
trazendo o projecto um contributo importante para este processo. Apesar da mudança
funcional do edifício mantêm-se todos os elementos caracterizadores do sistema
construtivo existente. O valor patrimonial diagnosticado impôs o critério de
distribuição do programa. O piso térreo ficou destinado às áreas de apoio aos
funcionários e de produção com equipamento de grandes dimensões, enquanto a escadaria
nobre e o tratamento decorativo do 1º andar sugeriram a localização das áreas
administrativas. No salão que ocupa o 1º e 2ºandares ficou localizada a área
central de produção. A ocupação deste espaço em openspace permite a leitura
total da sua volumetria e do tratamento decorativo. O novo balcão proposto em
contraponto ao existente testemunha os diversos tempos de intervenção.
Localização
Rua José Falcão, Porto
Data de Projecto
2007
Data de Construção
2008 – 2009
Fotografias
João Ferrand
Autores
Nuno Valentim, Frederico Eça, Paola Monzio c/ Maria
Ana S Coutinho
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Casa Andresen
A celebração do centenário da Universidade do Porto e a
possibilidade de receber a exposição internacional "A Evolução de Darwin" sobre
a sua vida e obra proporcionaram a reabilitação deste edifício de 1875,
estendendo a intervenção às estufas dos anos 60 (Karl Franz Koepp). Face aos
valores identificados, as intervenções foram direccionadas aos pontos críticos
programáticos e construtivos. As operações necessárias foram sobretudo de
demolição pontual, reorganização de espaços e reparação/recuperação dos elementos construtivos. A
necessidade de criar um percurso no interior da Casa com uma lógica adaptada à acessibilidade
de visitantes das exposições tornou-se o fio condutor da intervenção
arquitectónica. Nesta perspectiva, introduziram-se uma nova escada e um elevador. As
funções de apoio como instalações sanitárias, cafetaria e áreas técnicas
situaram-se no piso inferior. Esta relocalização permitiu criar novas relações
com o jardim. Para além da introdução de novas infra-estruturas, os restantes
trabalhos foram sobretudo de recuperação dos materiais de revestimento e
pinturas. Um rigoroso estudo diagnóstico teve grande importância para a
correcta definição da estratégia de intervenção. Não se trata de reabilitação
low-cost (como muitos pretendem que a reabilitação nos dias de hoje se designe)
mas sim de um projecto que cumpre um tecto orçamental e um prazo de execução, encontrando
os valores a preservar e as prioridades na intervenção.
Localização
Jardim Botânico do Porto
Rua do Campo Alegre, 1191, Porto
Data do projecto
2010
Data de Construção
2010-2011
Fotografia
João Ferrand Fotografia, Lda
Arquitectura
Nuno Valentim, Frederico Eça
Colaboradores
Maria Ana S. Coutinho, Pedro Costa, Rui Valentim, Nuno
Borges