[Black Archive #09] RUÍNAS




BLACK ARCHIVE
Quintas-Feiras Negras | Arquitectura e destruição
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Sessão #09 | Ruínas
José Miguel Rodrigues (Arquitecto - FAUP)
Vítor Moura (Estética/Filosofia - UM/EAUM)
Nuno Valentim (Arquitecto - FAUP)
Cooperativa Gesto | 30.11.2011
Arquivo (vídeos)
Debate (parte 1) / (parte 2)



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Introdução
Queria partilhar com vocês, ao fim destas nove sessões, alguns comentários e impressões. Este ciclo de conversas e de cinema, que hoje aqui encerramos, procurou ser, sobretudo, uma possibilidade de falar sobre arquitectura. E digo falar de arquitectura e não deste ou daquele arquitecto. Fala-se muito sobre os arquitectos e pouco sobre arquitectura. Fala-se muito sobre respostas e soluções arquitectónicas e pouco sobre problemas e questões de arquitectura.
E, por isso, falar de “arquitectura e destruição” foi, sobretudo, um pretexto. Um motivo para abordar um horizonte de problemas, questões, temas, que não pertencendo ao discurso quotidiano da prática arquitectónica, enredada como está nos meandros da legislação, das imagens, dos pragmatismos, dos prazos, nem por isso deixam de ser menos importantes. Eu diria que são, inclusivamente, essenciais para pensar os tempos que se avizinham. Mas parece haver sempre pouco tempo para pensar, não apenas no contexto do projecto, da prática disciplinar quotidiana, mas inclusivamente nas próprias escolas e na própria “teoria”, agora mais entretida a brincar com cronogramas e abstracts.
João Barrento dizia, há pouco tempo, que uma das principais razões do insucesso do ensaio, como género e modo, nas academias é o facto de vivermos numa sociedade, que nesses lugares que são o talk show e os documentários históricos, rejeita o pensamento, e cultiva a narrativa linear.
Mas também não se trata de nos enredarmos em discursos demasiado abstractos e conceptuais, mas tentar desvelar um horizonte de problemas que infere e informa necessariamente a actividade do arquitecto e do projecto. Não se trata, do: “lá estão eles a falar de coisas esquisitas” ou lá estão eles na “lala land”, mas pensarmos que quando falamos de arquitectura, estamos necessariamente a falar de politica ou de ética, de filosofia e antropologia, e de um conjunto de questões que não pertencem unicamente à disciplina arquitectónica, mas a todas as disciplinas, isto é, pertencem ao comum, à vida quotidiana. Que é afinal a matéria da arquitectura.
Se a arquitectura é ainda essa capacidade de concretizar um lugar, de configurar um território, construir uma casa, então ela terá sempre sobre si um horizonte ético, poético e político que exigirá sempre uma reflexão informada.
Tal como disse na semana passada, e perdoem-me a repetição, defender a dignidade e a importância da arquitectura passa necessariamente por aqui e passa pela capacidade de nós conseguirmos compreender, mas também reinventar, nesse ciclo sem fim entre experimentação e tradição, entre memória e esquecimento, o papel que cabe exactamente à arquitectura. Tal como o fizeram há 100 anos Le Corbusier, Loos ou Mies van der Rohe.
Baruch Espinosa, esse luso descendente como agora se diz, perguntava no século XVII, «o que pode um corpo?», pois a pergunta que se põe ou impõe, será sobretudo esta: «o que pode a arquitectura?».