Pedro Oliveira
A PAISAGEM PONTUADA
Pontos
no campo da Metápole
Uma
nova realidade
É
um dado adquirido que a paisagem urbana mudou significativamente nos últimos
anos. A complexidade verificada tem sido nomeada de diferentes formas, mas à
forma vasta e policêntrica a que chamamos cidade (?) são sempre associados três
fenómenos explicativos: terciarização, globalização da economia e da cultura e,
proliferação das redes de informação e de comunicação. Aliás, as tecnologias da
era da informação mudaram de forma irrevogável e irreversível as noções de
espaço-tempo. Foram exemplarmente instrumentalizadas pela lógica de mercado,
que, sedento de crescimento e mudança, potenciaram todos estes acontecimentos.
Uma vez que nos encontramos numa período de crise, ideal para repensar
paradigmas, reflictamos sobre a natural frustração com a arquitectura e
urbanismo guiados pelo mercado. As ideias de reintegração/reciclagem/revolução,
ao nível espacial, objectual, funcional, social, disciplinar sintetizam uma
reacção a essa frustração. As obsolescências do less is more e do more
is more deram lugar ao more from less. A tendência
para uma maior solidariedade social, para uma intensificação da relação entre
Homem e Natureza e para a compreensão e aproximação de modelos naturais
(Ecologia) e artificiais (redes materiais e imateriais da era informacional)
começa a emergir no início do Século XXI.
Pontos no campo da Metápole (1)
As teorias contemporâneas das mais variadas disciplinas convergem para a visão de uma existência em rede, plena de interdependências, na qual tudo está interrelacionado. Ao nível do Urbanismo esta visão é facilmente visivel na definição da metápole, policêntrica. Esta nova definição pressupõe um vasto campo onde diferentes centros, normalmente em torno de uma antiga cidade, vão sendo criados, dando resposta a novas necessidades e interesses. A atracção de uma determinada cidade-região ou área metropolitana, está dependente não só da mobilidade física (material) mas também da mobilidade social, económica ou cognitiva (imaterial) – que permitam “surfar nos fluxos da moda, dos ambientes e do acontecimento”(2).
Se fizéssemos a experiência de cartografar as intensidades de relações sociais, económicas, culturais e colocássemos estas cartas por cima da rede infraestrutural urbana (entendida na sua vertente formal), verificávamos, facilmente, como se estabelecem redes que se vão sobrepondo e criando pontos ou nós de convergência. Quanto maior for a intensidade de cruzamentos num determinado ponto, maior é a sua capacidade atractiva. Nesta materialização, um pouco abstracta, dos movimentos físicos e metafísicos, é curioso reparar que os pontos são os espaços de maior dinamismo e intensidade, contrariando a sua definição habitual de estaticidade. Aliás, os conceitos de dinamismo e de movimento constante afirmam-se como fundamentais na sociedade contemporânea - “In the end the urban truth is in the flow.” (3).
Pontos no campo da Metápole (1)
As teorias contemporâneas das mais variadas disciplinas convergem para a visão de uma existência em rede, plena de interdependências, na qual tudo está interrelacionado. Ao nível do Urbanismo esta visão é facilmente visivel na definição da metápole, policêntrica. Esta nova definição pressupõe um vasto campo onde diferentes centros, normalmente em torno de uma antiga cidade, vão sendo criados, dando resposta a novas necessidades e interesses. A atracção de uma determinada cidade-região ou área metropolitana, está dependente não só da mobilidade física (material) mas também da mobilidade social, económica ou cognitiva (imaterial) – que permitam “surfar nos fluxos da moda, dos ambientes e do acontecimento”(2).
Se fizéssemos a experiência de cartografar as intensidades de relações sociais, económicas, culturais e colocássemos estas cartas por cima da rede infraestrutural urbana (entendida na sua vertente formal), verificávamos, facilmente, como se estabelecem redes que se vão sobrepondo e criando pontos ou nós de convergência. Quanto maior for a intensidade de cruzamentos num determinado ponto, maior é a sua capacidade atractiva. Nesta materialização, um pouco abstracta, dos movimentos físicos e metafísicos, é curioso reparar que os pontos são os espaços de maior dinamismo e intensidade, contrariando a sua definição habitual de estaticidade. Aliás, os conceitos de dinamismo e de movimento constante afirmam-se como fundamentais na sociedade contemporânea - “In the end the urban truth is in the flow.” (3).
Velhas condições, novas construções
Importa, então, reflectir um pouco acerca daquilo que define e caracteriza cada ponto. A Acessibilidade é a primeira condição para o aparecimento de um determinado conjunto – tanto nas cidades antigas como nas novas centralidades, a localização perto de uma infra-estrutura natural ou artificial que lhe permitam estabelecer relações com outras é fundamental. A Diversidade Funcional constitui a segunda condição, definindo-se esta como algo que possibilite uma série de relações e sinergias de grande intensidade num curto espaço (de tempo). E, por fim, o Simbolismo, ou a integração de formas e sinais que constituam o suporte para a orientação, fruição e construção de memória colectiva. Os três vértices compreendem uma grande capacidade de se transfigurarem de caso para caso, assumindo diferentes graus de importância em cada nó ou ponto – exemplificando, o simbolismo, no sentido de formas mais convencionais e mais presentes na memória colectiva é bastante mais forte num centro antigo do que numa nova centralidade (que recorre sempre à estetização da arquitectura e do quotidiano, enchendo-nos de informação e estímulos superficiais).
O novo paradigma é construído sobre os conceitos de dinamismo (a passagem entre pontos, ou zapping urbano) e de complementariedade (a existência de uma lógica macro, que compreende as necessidades de uma área vasta de população), como algo subjacente a estes pontos ou nós. No sentido de se interpretar e criar de forma mais equilibrada a cidade, há um terceito conceito que merece atenção: o de limite. As novas centralidades que surgiram na segunda metade do século XX partilham o facto de utilizarem os materiais da arquitectura pós-moderna, dos quais se destaca a forma agressiva de se fecharem sobre eles próprios. Estes enclaves impõem-se no/ao território, gerando situações de grande artificialidade e pervertendo as relações espaciais – estar próximo deixou de significar que existem relações significativas (4). As relações que estabelecem com o contexto não traduzem, de todo, as ideias das redes dinâmicas de interdependências entre pessoas, natureza e tecnologias. Parece-nos óbvio, também, que a oposição radical a este modelo (a abolição total de fronteiras) não constitui uma solução exequível. A porosidade entre tecidos urbanos, ou a utilização de membranas permeáveis (substituindo os muros e vedações pós-modernos) são possíveis soluções e começam a surgir nalgumas arquitecturas mais recentes.
Uma saída possível
Dada a complexa realidade que foi sendo revista ao longo do texto, interessa-nos apontar uma recente teoria (que seguramente irá ser acompanhada por outras que divergem na forma mas não no conteúdo), Integral Urbanism, por Nan Ellin. Sugere metodologias e atitudes que darão respostas mais completas e capazes à problemática contemporânea, focando cinco pontos: conectividade, hibridação, porosidade, autenticidade e vulnerabilidade. Acabamos o texto com o início do livro de Nan Ellin, que explica o múltiplo nexo de Integral Urbanism:
Integral – Essential to completeness, lacking nothing essential, formed as a unit with another part.
Integrate – To form, coordinate, or blend into a functioning or unified whole.(...)
Integrity – adherence to artistic or moral values; incorruptibility; soundness; the quality or state of being complete and undivided; completeness.(5)
Notas
1- Ascher, François, Metapolis – Acerca do futuro da cidade, 1995. A ideia de metápole apela à noção de “um conjunto de espaços em que a totalidade ou parte dos habitantes, das actividades económicas, ou dos territórios, está integrada no funcionamento quotidiano de uma metrópole. Constitui geralmente uma única bacia de emprego, de residência e actividades, e os espaços que a compõem são profundamente heterogéneos e não necessariamente contíguos. Uma metápole compreende, pelo menos, algumas centenas de milhares de habitantes.”
2- Gadanho, Pedro, A arquitectura como Performance, artigo na Revista DIF 70. Cfr. também Graham, Stephen e Marvin, Simon, Splintering Urbanism, 2001.
3- Ellin, Nan, Integral Urbanism, 2006.
4- Graham, Stephen e Marvin, Simon, Splintering Urbanism, 2001
5- Ellin, Nan, op.cit.
Sequência ilustrada a partir de:
Kempf, Petra, You Are The City - Observation and Transformation of Urban Settings, Lars Muller Publishers
__________
Pedro Oliveira (Porto, 1983)
Arquitecto pela FAUP. Vive e trabalha no Porto.
Os seus interesses vão desde a cozinha grega ao urbanismo americano.
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